"Um Espião Infiltrado" tem Ted Danson ótimo em série ao estilo "Ted Lasso"
Série da Netflix comandada por Michael Schur ("The Good Place", Parks and Recreation") opta pela simplicidade, mas oferece conforto e bem-estar ao público
O mal-estar trazido pelos anos de pandemia foram diretamente responsáveis pelo sucesso de séries como “Ted Lasso”, uma trama sobre futebol, sim, mas uma história cheia de calor humano, com personagens que, em sua essência, são bons. Na mesma pegada, obras como “Marvelous Mrs. Maisel”, “Shrinking”, “The Good Place”, “Abbott Elementary”, “Trying” ou “Mythic Quest”, todas diferentes entre si, levaram conforto ao público com algo em comum: a capacidade de fazer o espectador se sentir bem.
“Um Espião Infiltrado”, da Netflix, segue o mesmo caminho. Em oito episódios de 30 minutos, a série comandada por Michael Schur tem assinatura de fácil reconhecimento. O produtor, que também assina produção da impecável “Hacks” e de neoclássicos do gênero como “Brooklyn Nine-Nine”, “Master of None”, a já citada “The Good Place” e “The Office”, entende o que precisa ser feito e o faz de maneira simples.
Baseado no excelente documentário “The Mole Agent” (indicado ao Oscar), “Um Espião Infiltrado” acompanha Charles (Ted Danson), um arquiteto aposentado, com uma boa vida, mas que parece ter perdido o prazer após a morte de sua esposa, um ano antes. Ele vive distante da filha e dos netos em uma vida sem grandes emoções. As coisas mudam quando ele é recrutado para trabalhar como um detetive infiltrado em uma casa de repouso em que, aparentemente, há um ladrão atuando.
O texto é construído em cima do charme e do carisma de Danson, mas se desenvolve mesmo é a partir das relações que Charles constrói em sua missão. É interessante como a série é inicialmente desenvolvida como um “whodunnit”, algo meio “Only Murders in the Building”, mas logo apresenta outras camadas e sua real intenção.
“Um Espião Infiltrado” ganha força quando conhecemos Emily (Mary Elizabeth Ellis), a filha de Charles, e os outros moradores da Pacific View, a tal casa de repouso. Essa escolha possibilita que Schur tenha um elenco de apoio perfeito em mãos, com grandes atrizes e atores que visivelmente se divertem em seus papéis, nomes como Sally Struthers, John Getz, Lori Tan Chinn, Clyde Kusatsu, além da ótima Stephanie Beatriz (“Brooklyn Nine-Nine”).
O protagonismo da terceira idade também é um dos fatores que tornam o texto tão adorável. Charles se afeiçoa aos moradores, às suas histórias, e passa a fazer a diferença, mesmo de maneira sutil, naquele local. Danson tem um tempo de humor impecável e constrói seu protagonista como alguém recuperando a energia da vida ao novamente se sentir produtivo. É nesse excesso de vontade que a série constrói seu humor.
E o humor de “Um Espião Infiltrado” talvez não seja tão parecido ou escrachado com o de outros trabalhos de Schur, se aproximando muito mais das obras criadas por Bill Lawrence para a AppleTV (“Shrinking” e “Ted Lasso”). As risadas proporcionadas são mais suaves e afetuosas, frutos de boas piadas, sim, mas, principalmente, do conforto proporcionado por aquelas situações. A série utiliza aquele tipo de humor que te faz rir com o canto da boca, quase sem perceber.
A série ainda se permite deixar de lado o foco da espionagem e explorar arcos mais individuais, como o de Didi (Stephanie Beatriz), no sétimo episódio, que nos permite conhecer, mesmo que brevemente, outra personagem importante à trama. A escolha, simples e eficiente, oferece um refresco na dinâmica, uma bem-vinda quebra na repetição.
Ao final da ágil e curta temporada, “Um Espião Infiltrado” encerra muito bem seu arco, mas deixa espaço para novos episódios. Mesmo que seja difícil de imaginar os caminhos que a série poderia seguir, o ineditismo e a dinâmica provavelmente seriam alteradas, mas Michael Schur, vale lembrar, mudava toda “The Good Place” a cada temporada e transformou “Parks and Recreation” em algo muito além de um clone de “The Office”. Uma segunda temporada de “Um Espião Infiltrado” pode não ser necessária, mas com certeza seria bem-vinda.
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Sou muito fã de comédia não ,mas assisti e achei top
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