Terror e suspense policial no ótimo "Longlegs - Vínculo Mortal"
Barato, tenso e inteligente, "Longlegs" chega aos cinemas brasileiros como um dos filmes de terror do ano e após sucesso de bilheteria nos EUA
Vendido como o grande terror do ano, “Longlegs - Vínculo Mortal” não é o que parece. O filme de Osgood Perkins (filho de Anthony Perkins, o Norman Bates de “Psicose”) é uma espécie de “Silêncio dos Inocentes” satânico, dialogando muito mais com suspenses policiais sinistros, como “Zodíaco” ou até “Se7en”, do que com filmes de terror genéricos lançados aos montes.
O filme, que chega aos cinemas brasileiros no dia 29, após sucesso nas bilheterias estadunidenses, acompanha a agente do FBI Lee Harker (Maika Monroe) às voltas com a investigação do serial killer que dá título ao filme. O texto é inteligente ao, desde o início, trazer possibilidades diferentes – ele deixa claro haver algo “sobrenatural” no universo do filme, tratando Lee como uma “médium”. Assim, quando as pistas cada vez mais estranhas sobre o caso começam a surgir, é impossível não pensar na possibilidade do inexplicável.
Ao mesmo tempo, “Longlegs” é um suspense policial quase convencional, da estrutura narrativa à estética utilizada em diversos filmes e diversas séries que recriam crimes reais. Talvez seja justamente essa proximidade com o real que aproxime o filme de Osgood Perkins do espectador, apresentando a ele algo com o que ele já está acostumado, mas que talvez traga algo além – essa possibilidade do “talvez”, inclusive, é um dos grandes trunfos de “Longlegs”.
“Longlegs” passeia por gêneros, com a possibilidade do sobrenatural sempre presente, mas sendo conduzido como um filme policial. Fica claro haver algo estranho, assim como a conexão entre Harper e o assassino, que sabemos existir, mas não sabemos ao certo sua complexidade.
O filme tira muito proveito também do clima de cidade pequena, uma ambientação que funciona tanto para o terror quanto para o drama policial. Esteticamente, “Longlegs” introduz alguns flashbacks bem marcados pela dimensão de tela e sustenta sua violência não apenas em imagens, mas também em algumas gravações perdidas que reforçam o incômodo com todo o caso.
Narrativamente, parece faltar ao texto um pouco de desenvolvimento aos personagens para que nos importemos com eles. É bem provável, porém, que isso seja mais uma escolha para reforçar o mistério, apresentando apenas aquilo que é conveniente ao texto e deixando as lacunas para serem preenchidas pelo espectador. A escolha, porém, nos afasta da protagonista Lee Harker e de tudo que a cerca – o público nunca se sente parte da trama ou se envolve, apenas a acompanha. No entanto, repito, não chega a ser uma falha se é uma escolha do diretor para aproximar o filme de um recorte de true crime, por exemplo.
“Longlegs” é um procedural, bem dividido em três atos (ou capítulos, como o filme é dividido), que oferece um mix de conforto pela estrutura narrativa e estranhamento com as possibilidades ventiladas pelo texto. Essa estrutura, principalmente no “passeio” entre o que entendemos ser real e o que seria sobrenatural, revela uma influência grande de “Arquivo X”, principalmente dos episódios mais sinistros, em Osgood Perkins.
“Longlegs – Vínculo Mortal” é ótimo. Enxuto, inteligente e com a capacidade de conduzir o espectador por onde bem entender. Ao fim, o filme opta por não eliminar nenhuma possibilidade, provocando a subjetividade do espectador – os mais céticos conseguirão alguma explicação para os acontecimentos, enquanto quem estiver disposto a acreditar, opta pela narrativa da existência de uma espécie de força maligna.
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