"Territory", da Netflix, busca mistura de "Succession" e "Yellowstone"
Mesmo sem muita originalidade, série australiana tem ótima ambientação, bons personagens, intrigas, traições e ação acima da média
“Territory”, nova série da Netflix, tem duas influências indiscutíveis: “Yellowstone” e “Succession”. Da série estrelada por Kevin Costner, a trama pega emprestado o estilo, com a Estância Marianne substituindo o rancho Dutton. Já de “Succession”, “Territory” se aproveita das subtramas de poder, das jogadas políticas, das segundas intenções nas escolhas de cada personagem.
Uma produção australiana, “Territory” tem início quando Daniel Lawson (Jake Ryan), chefe da estância, morre em um acidente e deixa sua família sem comando. Colin (Robert Taylor), o patriarca, é ultrapassado e provavelmente levará o negócio de gerações à falência; Graham (Michael Dorman), o filho mais velho, tem problemas com bebida e é visto com desconfiança pelo pai.
Neste cenário, é Emily (Anna Torv), esposa de Graham, mas de uma família bem menos “nobre”, quem faz suas jogadas para assumir as rédeas da estância e deixar algum legado para a filha, Susie (Philippa Northeast), mas ela também tem seus segredos.
O risco, claro, é que os inimigos dos Lawson se aproveitem da instabilidade da família para proveito próprio. Afinal, na propriedade deles existem riquezas minerais e outros bens que valem muito mais do que os gados da fictícia maior estância pecuária do mundo.
“Territory” opta por uma fórmula pouco inovadora, mas funcional. A série apresenta os personagens e suas dinâmicas todas já no primeiro episódio. Com apenas seis na temporada, o texto não tem muito tempo a gastar com tramas vazias e barrigas – se por um lado isso confere uma dinâmica muito mais acelerada à trama, por outro também dá a ela pouco tempo de respiro, talvez uma das principais características de “Succession”.
A briga por poder se resume á frase de Colins: “Estâncias de gado não são democracias, são reinos”. É assim que “Territory” lida com a luta pelo poder, introduzindo novos núcleos, alguns aparentemente inofensivos, mas sempre capazes de surpreender. É neste ponto, na verdade, que a série tem um de seus trunfos, pois nunca sabemos até onde aquelas pessoas estão dispostas a ir e o que estão dispostas a fazer.
Emily, até por Anna Torv (“Fringe”, “Mindhunter”) ser um rosto mais familiar ao público global, é quem assume o protagonismo. A personagem é bem construída, com a calma que o tempo da série permite, e passa a impressão de sempre ter uma jogada guardada, mesmo que prefira não a usar.
O resto do elenco, tanto principal quanto de apoio, também funciona bem, destaque para Clarence Ryan, que vive Nolan, um aborígene com ambições próprias e uma peça importante nos jogos de diversos interesses. Neste ponto, “Territory” se sai muito melhor que “Yellowstone” ao tratar a perspectiva dos povos nativos – Taylor Sheridan (criador de “Yellowstone”), afinal, não é um grande fã de minorias.
Tal qual acontece em “Yellowstone”, “Territory” introduz ação no meio do drama familiar e da luta por poder. É interessante como a ação da série da Netflix é mais crua, bem menos romantizada do que a das produções americanas, o que se dá por uma escolha estética, para distanciar a Austrália dos EUA, e não por falta de recursos, já que a série é grandiosa em vários momentos. A ação oferece uma quebra de ritmo, uma nova dinâmica, e fica quase sempre no limite do realismo – algo que seria possível, mas não provável.
Ao fim, a nova série australiana da Netflix tem todos os elementos necessários para convencer o público: um pouco de drama novelesco, violência, traição e mortes. Tudo isso em uma trama enxuta, bem amarrada e que funciona melhor que o esperado.
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