Ação, sexo, drogas... e só
Dos criadores de "Cobra Kai", série "Explosivos", da Netflix, é um "Se Beber, Não Case" com agentes especiais e ameaças nucleares
A partir do momento em que um nome se torna lucrativo na indústria, ele vira uma marca que abre espaços e ganha oportunidades. Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald eram roteiristas de pouco destaque, com créditos na série de filmes “Harold & Kumar” ou em “American Pie: O Reencontro”, ou seja…. A vida deles mudou com uma ideia: “e se a gente voltasse à história de Daniel San e Johnny Lawrence naquela alucinada cidade californiana em que caratê de crianças é a coisa mais importante do mundo?”.
O trio de roteiristas criou “Cobra Kai” para ser o chamariz da plataforma de conteúdo do YouTube, a finada YouTube Red. Após duas temporadas da série, com boas críticas, mas baixa popularidade (a base de assinantes era pequena), o serviço foi descontinuado como um fracasso descomunal. Hurwtiz, Schlossberg e Heald negociaram a série com outras plataformas e chegaram a um acordo com a Netflix.
A série de popularidade moderada se tornou um fenômeno em uma plataforma de grande alcance e agora credencia seu trio de criadores a novas empreitadas com carta branca – chegamos então a “Explosivos”. Sucesso na Netflix e idealizada pelos três roteiristas de “Cobra Kai” como um filme, há mais de dez anos, a série é o exemplo perfeito de realizadores com muita liberdade criativa e poucas ideias.
“Explosivos” acompanha uma força tarefa especial em uma missão para evitar uma rede terrorista russa de explodir Las Vegas. Quando a série tem início, acompanhamos a equipe liderada por Ava Winters (Shelley Hennig) no que parece ser uma missão bem-sucedida; eles salvam o dia, prendem o vilão e partem para a comemoração ao estilo Vegas, com uma festa regada a álcool, drogas, sexo e até um camelo que deixaria o grande Adriano Imperador com inveja.
Muita coisa acontece durante a festa, mas Ava é informada de que a verdadeira ameaça não foi contida. Agora eles têm sete horas para encontrar o terrorista e impedir que uma bomba nuclear exploda em solo estadunidense. Assim, de ressaca e ainda sob o efeito de algumas substâncias, os agentes têm que salvar o dia e resolverem entre si os acontecimentos da noite que ainda não acabou.
“Explosivos” busca algo ao estilo “The Boys”, mas longe do universo de super-heróis. A série aposta em um clima de “proibidão”, com bastante violência (digital) e nudez, sem grande preocupação com roteiro, diálogos ou desenvolvimento de personagens. O texto opta pelo choque, pelo constrangimento, mas é tudo muito artificial. Da mesma forma, o roteiro abusa das muletas, com soluções repentinas e milagrosas, quase ingênuas, para se colocar em movimento – toda a tensão, desde a cena inicial, é falsa.
É interessante como o trio de roteiristas, homens brancos de meia-idade, se esforça para ter mulheres no centro da ação, em posição de poder e desejo, mas não sabe muito bem como lidar com elas, criando conflitos bobos de rivalidade feminina.
Ava, a líder da equipe, vive às voltas com um luto; já Angela (Paola Lázaro) é uma mulher LGBTQIA+ de atitude e disposta a conseguir o que quer. A equipe ainda tem a novata Maya (Kimi Rutledge), a responsável pela tecnologia, e alguns homens que se encaixam em diversos estereótipos: o bonitão Chad (Nick Zano), o fortão Trunk (Terrence Terrell), o metódico piloto de ascendência asiática Paul (Eugene Kim) e o especialista em bombas (e festas) Haggerty (C. Thomas Howell).
O passado de comédias adolescentes dos roteiristas se faz presente no humor da série, todo calcado na trinca escatologia, sexo e drogas; é como um “Se Beber Não Case” de ação, mas obviamente sem o frescor que a comédia de Todd Phillips trazia em 2009.
Apesar de tudo isso, “Explosivos” não é necessariamente ruim se você for o público alvo da série, apenas um grande desperdício de recursos. Trata-se de um texto com grande produção, mas com cenas de ação que nunca vão além do “passável”. Se a ação não é boa, as piadas não são engraçadas e o roteiro é ruim, o que resta? Só o carisma de alguns personagens e a sensação de que dava para fazer algo muito melhor com eles.
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Comecei a assistir! To achando bem ruim!!