Minissérie “O Casal Perfeito”, da Netflix, é suspense ágil, pop e cheio de segredos
Estrelada por Nicole Kidman, minissérie adapta best-seller literário e explora o interesse do público nas entranhas de uma família milionária
Poucos atores entenderam tão bem a nova dinâmica da indústria hollywoodiana de se dividir entre filmes e séries como Nicole Kidman. Vencedora de um Oscar (por “As Horas”) e com outras quatro indicações no currículo, a atriz nunca abandonou o cinema, mas consolidou seu nome no mundo das séries com boas escolhas, da primeira participação, na australiana “Top of the Lake”, à consagração definitiva em “Big Little Lies” – no caminho, boas séries como “The Undoing”, “Operação Lioness”, “Expatriadas” e a popular, mas não tão boa, “Nove Desconhecidos”.
A atriz retorna agora a um ambiente que lhe parece muito familiar, vivendo uma matriarca milionária, controladora e cheia de segredos em “O Casal Perfeito”. Em seis episódios dirigidos por Susanne Bier (vencedora do Oscar por “Em um Mundo Melhor”), a minissérie da Netflix adapta o livro homônimo de Elin Hilderbrand em um suspense inteligente, ágil e delicioso de se acompanhar.
Kidman vive Greer, uma escritora apaixonada por Agatha Christie e que construiu a prolífica carreira escrevendo suspenses quase anuais. Ela é casada com Tag (Liev Schreiber) há 29 anos e tem três filhos com ele, o enrolado Thomas (Jack Reynor), o perfeitinho Benji (Billy Howle) e o caçula, Will (Sam Nivola). Benji está prestes a se casar com Amelia (Eve Hewson, da ótima “Mal de Família”), mas, na noite que antecede o casamento, após uma festa de “ensaio”, um corpo surge no mar da pacata ilha e, claro, tudo muda.
“O Casal Perfeito” dialoga diretamente com as outras séries estreladas por Kidman, mas isso não ocorre necessariamente por causa dela. Toda a construção é familiar, com muitos segredos, vidas de aparências, amores e traições – o fato de estarem todos mais ou menos confinados na ilha ainda remete a “White Lotus”.
O primeiro episódio não se apressa, introduzindo personagens e relações com calma, permitindo que o espectador se afeiçoe àquelas pessoas antes de descobrir quem, de fato, está morto. O texto constrói bem os personagens, deixando até os menos interessantes, como Abby (Dakota Fanning) com bons contextos.
Toda a narrativa é construída em cima dos depoimentos dos suspeitos/convidados à festa, o que ajuda no desenvolvimento por diferentes olhares, como quando um personagem define Greer e sua família como “tão ricos que podem matar alguém e sair impunes”.
O texto é esperto ao apresentar vários suspeitos, mas sem se esforçar muito para enganar o espectador – a série apresenta os acontecimentos sem pesar a mão, deixando que construamos nossa própria versão. “O Casal Perfeito” também é inteligente ao se sustentar em grandes falsos ganchos entre episódios, oferecendo uma experiência bem agradável de consumo.
É muito interessante como a série parte de um acontecimento e faz dele sua força motriz, mas não se limita a ele. “O Casal Perfeito” tem seu grande atrativo nas histórias que orbitam a morte, nos segredos que tornam essas histórias tão interessantes, fazendo com que o espectador engate um episódio no outro não para descobrir o responsável, mas para mergulhar mais naquela rede de intrigas construída com diálogos inteligentes e bom humor.
“O Casal Perfeito” não é perfeita, mas funciona em cima dessa imperfeição. A minissérie introduz bons personagens, alguns que despertam simpatia imediata, e explora o interesse do público de acompanhar a corrupção e a podridão de pessoas supostamente perfeitas, como diz o título.
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