"Meu Eu do Futuro" é dramédia ágil, inteligente e com ótimo texto
Filme lançado pelo Prime Video mistura humor, fantasia e drama na história de uma jovem que se encontra com sua versão de 39 anos em uma viagem de cogumelos
Você viveria um possível grande amor mesmo com a certeza de que ele chegaria ao fim? Inicialmente inofensiva e com nome de filme ruim, “Meu Eu do Futuro”, comédia dirigida e escrita por Megan Park (do bom “A Vida Depois”), se desenvolve de maneira leve antes de levantar questionamentos que conferem peso a ela.
O filme lançado pelo Prime Video tem início do aniversário de 18 anos de Elliott (Maisy Stella), moradora de uma pacata região de lagos prestes a se mudar para a grande Toronto para fazer universidade. Para celebrar a data, ela e duas amigas decidem se isolar numa ilha e tomar um chá de cogumelos. Enquanto Ruthie (Maddie Ziegler) e Ro (Kerrice Brooks) estão curtindo a onda, Elliott se depara com uma estranha à sua frente: ela mesmo com 39 anos (Aubrey Plaza).
A dinâmica imediata das duas é ótima, com diálogos rápidos e inteligentes que lidam com expectativa e realidade do passar do tempo. É óbvio que perguntas mais pessoais são feitas e as respostas transformam a jovem Elliott, que passa a questionar suas escolhas e a maneira como ela lida com a família, os relacionamentos e as amizades.
“Meu Eu do Futuro” tem uma estrutura bem convencional, misturando fantasia, comédia romântica e um pouco de drama de amadurecimento, mas faz escolhas inteligentes pelo caminho. Após apresentar seu grande conflito e inseri-lo na cabeça do espectador, o texto de Megan Park segue por outros caminhos, com Elliott vivendo seus últimos dias em famíla antes de partir para Toronto.
É interessante como, com a ideia plantada, o espectador não consegue deixá-la de lado enquanto acompanha a protagonista, o que dá novos contornos ao que se vê em tela, nunca tornando aquela felicidade totalmente plena. Quando Elliott decide “ignorar” um conselho de sua versão mais velha, já sabemos que algo pode dar errado, mas não necessariamente o quê.
O texto faz uma escolha até ousada de afastar a versão mais velha de Elliott durante boa parte do filme, utilizando-a em momentos pontuais e até inventando uma desculpa esperta para o sumiço, uma muleta bem utilizada. É interessante também como “Meu Eu do Futuro” usa a fantasia com naturalidade e bom humor, sem buscar explicações baratas para o ocorrido ou fazer disso sua força motriz.
“Meu Eu do Futuro” é uma dramédia simples, mas inteligente. O filme tem bom texto, boas atuações e não busca ser mais do que seu roteiro traz. A escolha por pouca exposição compensa no final e oferece ao espectador a reflexão que abre este texto: Você viveria um possível grande amor mesmo com a certeza de que ele chegaria ao fim?
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