Faroeste com história real, boa ação e bastante drama
"Homens da Lei: Bass Reeves" conta a jornada do ex-escravo que se tornou o primeiro delegado negro dos EUA
Um dos nomes mais populares da TV americana após o sucesso de tudo o que fez recentemente, Taylor Sheridan é alvo de algumas merecidas críticas. O roteirista/produtor/diretor ganhou popularidade após o sucesso dos dois primeiros filmes que escreveu, “Sicario” (2015) e “A Qualquer Custo” (2016), mas foi com as séries que ele se tornou um dos nomes mais poderosos da indústria. “Yellowstone” é um fenômeno nos EUA, garantindo dois derivados igualmente bem sucedidos, “1883” e “1923”; Sheridan também é responsável por “Mayor of Kingstown” e “Tulsa King”, todas lançadas por aqui na Paramount+.
Em comum, além da assinatura do autor, uma característica marcante: são todas séries protagonizadas por homens brancos e com pouco espaço de destaque para qualquer outro gênero ou etnia. Não demorou muito para que Sheridan resolvesse “limpar sua barra”. Primeiro foi com “Operação Lioness”, série protagonizada quase que totalmente por mulheres, com bastante protagonismo para uma negra, Zoe Saldaña, e uma latina, a “brasileira” Laysla De Oliveira, atriz nascida no Canadá, mas de pais brasileiros, o que a credencia para a vaga de “não-americana” em diversas produções. Agora é a vez de “Homens da Lei: Bass Reeves” contar a história do primeiro delegado negro dos EUA e o personagem histórico que inspirou o personagem do Cavaleiro Solitário (um homem branco).
Com episódios semanais na Paramount+, “Bass Reeves” tem início em 1862, durante a Guerra Civil dos EUA, quando o então escravo Bass (David Oyelowo) era obrigado a lutar ao lado de seu “dono” (Shea Whigham) pelos estados confederados que, ironicamente, lutavam pelo direito de ter escravos (entre outras “liberdades”). Após um desentendimento, ele é obrigado a deixar a esposa e fugir até chegar a um território indígena livre e ser acolhido por uma família cujo pai foi morto na “guerra dos homens brancos”. Bass vive em paz por lá durante alguns anos, mas a guerra novamente chega até ele, mas já tendo chegado ao fim.
Sem entrar em spoilers (mesmo que seja uma história baseada em fatos), alguns anos depois, durante o período da Reconstrução pos-guerra, Bass Reeves recebe o convite para acompanhar o xerife Sherrill Lynn (Dennis Quaid) e, mesmo que queira se manter em paz como um agricultor, precisa do dinheiro. Tudo muda a partir daí e acompanhamos a jornada do ex-escravo até o delegado que prendeu mais de 3.000 bandidos e fugitivos da lei.
Baseada na trilogia de livros de Sidney Thompson (não lançados por aqui), “Homens da Lei: Bass Reeves” seria um derivado de “1883”, mas acaba sendo um ponto de partida para Sheridan criar uma antologia sobre importantes “homens da lei” da história dos EUA. A série fica em algum lugar no meio do caminho entre os faroestes modernos de Sheridan e uma narrativa épica mais clássica, a jornada de um homem de moral forte em meio a uma terra sem leis.
O primeiro episódio funciona quase como um prelúdio à série, mas serve para que o espectador conheça o protagonista e suas motivações. “Bass Reeves” dá alguns saltos temporais com paradas pontuais em momentos importantes na vida de seu biografado, dando aquela impressão de que toda sua vida foi uma heroica jornada épica. Como uma biografia que se preze, a série coloca seu protagonista em um pedestal – Reeves é sempre justo, um homem de família, honrado, temente a Deus e disposto a enxergar o melhor nas pessoas.
É justamente dessa característica do biografado que “Bass Reeves” extrai seu melhor e seu pior. A relação do delegado com o Billy Crow (Forrest Goodluck) é interessante, com o protagonista, sempre o bom moço, deixando espaço para que o personagem seja uma espécie de anti-herói. A série também dá espaço para que Jennie (Lauren E. Banks) tenha bons momentos, uma mulher forte, sempre ao lado do marido, mas não dependente dele.
Em contrapartida, o texto, na construção um tanto atropelada não de Bass, mas de sua história, dá a impressão de que tudo o que um homem negro precisava fazer era se rebelar para alcançar aquele status. Há poucos conflitos raciais além dos vistos nos primeiros episódios, como se o fim da Guerra Civil tivesse tornado a situação dos negros americanos bem mais confortável. Nos momentos que antecedem a nomeação de Reeves como delegado, tudo é simples, mas conduzido por uma autoridade branca, como se Sheridan (que assina como produtor, mas não como roteirista) se explicasse diante de todos seus motivos para a realização da série.
Ao fim, com bons tiroteios e uma boa carga dramática, “Homens da Lei: Bass Reeves” deve agradar os fãs de faroeste, principalmente por trazer uma história real. Mesmo que Taylor Sheridan não seja o condutor da série, sua assinatura está impregnada ali, e ele sabe o que faz. Em seu lugar, Chad Feehan, roteirista de poucos episódios de séries como “Banshee” e “Ray Donovan” parece apenas emular um estilo, pois sabe que não é seu nome que venderá a série.
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