"Eu Odeio o Natal" diverte e emociona

Em novos episódios, série natalina da Netflix é de longe o melhor conteúdo da temporada de Natal

Em meio a tantas obras genéricas despejadas ano após ano nas plataformas de streaming, é normal deixar alguma acima da média passar despercebida. Lançada no fim de 2019 pela Netflix, a série norueguesa “Namorado para o Natal” teve duas ótimas temporadas (a segunda veio no final de 2020), mas pouca gente deu bola para ela, talvez pelo título genérico, talvez pela saturação ou pelo excesso de oferta de obras natalinas.

Confiando no poder da história, a Netflix lançou ano passado“Eu Odeio o Natal”, um remake italiano da série norueguesa que mantém toda a essência da obra original, mas a torna ainda mais pop e atrativa. Seguindo a mesma estratégia da série original de lançar temporadas perto do Natal, a série agora ganha uma segunda temporada que mantém o nível de qualidade.

Os novos episódios têm início com o gancho deixado ao fim da temporada anterior, mas logo pula para a temporada natalina atual. É óbvio que finalmente descobrimos quem está à porta na ceia de Natal da família da protagonista. Muita coisa mudou na vida de Gianna (Pilar Fogliati), que chega a vislumbrar a possibilidade de um relacionamento duradouro, mesmo que todos os casais a seu redor pareçam sofrer dentro das próprias relações.

Claro que as coisas saem do controle às vésperas do Natal e Gianna tem que organizar a ceia perfeita para sua família enquanto tenta dar um jeito na vida amorosa. A nova temporada traz de volta alguns personagens da primeira leva, mas também introduz outros, como o novo vizinho de Gianna, Filippo (Pierpaolo Spollon), pai solo de uma menina de 15 anos.

Com seis episódios de cerca de 25 minutos por temporada, “Eu Odeio o Natal” passa longe de ser uma narrativa natalina padrão, com discursos sobre a magia ou o verdadeiro significado do Natal. Ao invés disso, a série se desenvolve como uma ótima comédia romântica fortemente influenciada por comédias românticas britânicas como “Simplesmente Amor”, frequentemente citada por alguns personagens e que funciona até como um traço de personalidade de Gianna.

Acompanhamos então Gianna em uma contagem regressiva para o Natal e elencando pretendentes completamente diferentes um do outro. Ao mesmo tempo, mergulhamos na vida de Gianna e suas amigas, cada uma delas passando por algum problema diferente na vida, de um casamento em ruínas de Margherita (Fiorenza Pieri) ao desejo de vingança motivado por um pé na bunda no passado de Titti (Beatrice Arnera); a tímida Caterina (Cecilia Bertozzi), é uma ausência na nova temporada (e nem sequer é citada).

O desenvolvimento da personagem é ótimo para que o espectador se identifique com ela. Gianna é falha, expõe seus rancores e arrependimentos em conversas com as amigas e nos encontros com seus pretendentes. É nessa construção de relações, inclusive, que “Eu Odeio o Natal” tem sua força.

O texto aproxima o espectador da protagonista com várias conversas de Gianna com a câmera, olhando nos nossos olhos, quebrando a quarta parede – é como se ela fosse uma de nós, uma amiga, uma pessoa querida.

É interessante como a série, mesmo sendo extremamente confortável, elimina alguns clichês e possíveis arcos de maneira natural, sem que o espectador perceba. Tal qual obras como “As Garotas do Fundão” ou “Valéria”, séries sobre cumplicidade entre amigas, “Eu Odeio o Natal” busca eliminar a datada narrativa de rivalidade feminina.

Seria muito fácil para “Eu Odeio o Natal” desenvolver uma narrativa de clichês e estereótipos, mas o texto busca a diferença. Se na primeira temporada Gianna busca problemas em todos os homens com quem se relaciona, até de forma imatura, na segunda ela olha mais para dentro de si. É muito interessante como a série convida o espectador a olhar mais para as pessoas ao redor no convívio diário, seus dramas e suas alegrias, para conhecê-las.

“Eu Odeio o Natal” é ótima, uma série que oferece o conforto de uma narrativa sustentada nos clichês das comédias românticas, mas que também traz boas viradas com um olhar menos egoísta que nos leva a torcer por um ou outro pretendente. Ao fim, leve, divertida e bem construída, a série sabe que às vezes beira o limite do ridículo, mas o faz com inteligência, oferecendo de longe o melhor conteúdo da temporada de Natal das plataformas de streaming.

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